Hoje vamos falar de um tema muito importante, principalmente para as famílias que tem bebês considerados como "de risco" para o desenvolvimento, a Intervenção Precoce. Ela vem sendo muito divulgada devido ao aumento do números de casos de Microcefalia no país. Vamos conhecer um pouco mais?

Atualmente, com os avanços da tecnologia, tem ocorrido uma redução significativa da mortalidade de recém-nascidos de risco. Cerca de 25% dos bebês que precisam de UTI neonatal são considerados de risco, com possível comprometimento do desenvolvimento neurológico. Os bebês de risco podem apresentar déficits não só no aspecto motor, como também no sensorial, mental e/ou emocional. Os desvios de desenvolvimento podem ocorrer devido a causas relacionadas aos períodos pré, peri ou pós natal. Alguns dos critérios para acompanhamento dos recém-nascidos são: asfixia perinatal, prematuridade, problemas neurológicos, bebês pequenos para idade gestacional, hiperbilirrubinemia, policitemia, uso de ventilação mecânica ou oxigenioterapia (com oxigênio >40%), infecções, malformações congênitas e síndromes genéticas.
Esse tratamento, a Intervenção Precoce, pode ser encontrado também com os nomes de Estimulação Precoce ou Estimulação Essencial. É importante esclarecer que o termo precoce, não é direcionado a fazer com que a criança se desenvolva antes do tempo dela, e sim, iniciar um estímulo precocemente, como forma de prevenir alterações e agravos no desenvolvimento neuropsicomotor. O tratamento não tem o objetivo de criar "super bebês" que desenvolvem habilidades muito antes do período adequado, e sim, identificar atrasos e desvios de desenvolvimento, estimular a criança com base na avaliação de capacidades a cada mês, e orientar as famílias.
Muitos desses bebês terão o seu desenvolvimento de forma típica, sem atrasos ou desvios, porém outra parte terá alterações, e daí vem a importância do acompanhamento destes bebês de risco. Particularmente, no primeiro trimestre de vida da criança, existe uma dificuldade maior em detectar as anormalidade, principalmente se estas são leves. Quando conseguimos identificar as alterações no desenvolvimento da criança e/ou os indicadores de risco (orgânicas ou ambientais), o mais cedo possível, a intervenção ocorre em momento oportuno. Quando há atraso no desenvolvimento, quanto mais precoce for o diagnóstico e a intervenção, menor o impacto desse problema no futuro, para a família e a criança.

Durante o primeiro ano de sua vida, o bebê terá grandes aquisições motoras como: controle da cabeça, se manter de barriga para baixo, rolar, sentar, habilidades manuais, postura de 4 apoios, engatinhar, ficar de pé e andar, além de aprender a se transferir para cada uma das posturas. Através de estudos, existe uma média de idade e uma ordem para que essas habilidades sejam desenvolvidas, mas é importante lembrar que são faixas de idade, pois existe uma variabilidade grande de uma criança para outra.
A intervenção precoce tem o objetivo de favorecer e estimular o desenvolvimento neuropsicomotor da criança de risco, fornecer aos pais e cuidadores informação, apoio e modos de manter o estímulo em domicílio, além do monitoramento constante dessas aquisições. Pode ser realizada por diversos profissionais que tenham conhecimento sobre desenvolvimento infantil e que possuam experiência no manuseio do bebê de risco. A atuação no momento adequado visa melhorar o desenvolvimento não só motor, como cognitivo, acadêmico e social destas crianças. Pode ser feito de forma preventiva, iniciando assim que o recém-nascido é considerado de risco, ou de forma remediativa ou terapêutica, quando já existem problemas diagnosticados.
Quando os bebês são encaminhados de forma tardia para o tratamento, algumas deficiências já estão instaladas, padrões anormais de movimento já estão evidentes, a intervenção fica mais restrita e o resultado pode não ser o esperado. Nestes casos, o tratamento visa reduzir futuras complicações, melhorar a funcionalidade, facilitar a adaptação social e prevenir outras deficiências. Portanto, o ideal é que a intervenção comece assim que houver suspeita ou risco de alteração no desenvolvimento, evitando que o atraso e as anormalidades se instalem, e aproveitando ao máximo o período de maior sensibilidade do sistema neurológico e a plasticidade do cérebro da criança.

A intervenção precoce apresenta diferentes resultados a depender de alguns fatores. O ideal é iniciar até os 4 meses de idade, com um tempo ideal de tratamento de 1 hora, com sessões constantes (o número de sessões depende de cada caso), e intervenção feita com foco na criança e na família, que terá o papel de co-terapeuta, mantendo os estímulos em domicílio. O tratamento deve ter flexibilidade e usar diversos caminhos para alcançar o objetivo, entendendo que os aspectos motores, cognitivos, de linguagem, sociais e de auto cuidado interagem entre si, e a melhora em um, gera resultados nos demais aspectos. As diferenças individuais precisam ser respeitadas, e cada criança responderá aos estímulos de forma própria, cabendo ao terapeuta modificar e adaptar os estímulos.
O programa de intervenção deverá contar com uma equipe multidisciplinar, que possa trocar informações a respeito dos objetivos, terapêutica e resultados alcançados com a criança. Ao iniciar deverá ser realizada avaliação criteriosa da criança e os objetivos devem ser traçados levando em consideração também o desejo da criança e da família.

Durante a terapia, serão usados recursos inerentes a cada profissão, no meu caso, que sou fisioterapeuta, usamos macas ou tablados, bolas, rolos, travesseiros, espelhos, música, cadeiras e bancos, e brinquedos de diversos tipos. A criatividade é algo muito importante para quem trabalha com bebês e crianças, pois o desenvolvimento ocorre através das brincadeiras e atividades lúdicas, adaptadas, para que sejam alcançados os objetivos. É preciso um cuidado especial em relação ao ambiente, temperatura da sala, horário de alimentação e sono do bebê, e a terapia precisa ser interrompida se houver sinais de sobrecarga ou estresse. As orientações podem ser repassadas com os pais após cada sessão ou mudança de objetivos, e envolvem quais manuseios eles podem realizar, qual a melhor forma para carregar, dar banho, vestir, alimentar, colocar para dormir e brincar. Após a alta, é importante que os pais estejam atentos para que não sejam perdidos os objetivos alcançados, e que busquem retorno ao tratamento sempre que notarem alguma dificuldade ou anormalidade.
E os bebês termos e sem sinais de comprometimento neurológico? Precisam de Intervenção Precoce?
Muitos pais de bebês que nasceram a termo e sem sinais de comprometimento neurológico se alarmam se a criança demora um pouco mais para a aquisição de alguma habilidade. Neste caso, conversar com o pediatra e o fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional é importante, pois o bebê será avaliado de uma forma mais específica para a necessidade ou não de intervenção.

Na grande maioria dos casos, é somente a ansiedade ou pressão da própria família e a criança não apresenta nenhum comprometimento, nem necessidade de intervenção, e a consulta/avaliação deixará os pais mais tranquilos, pois serão esclarecidas possíveis dúvidas. É importante lembrar que as crianças são curiosas e adoram explorar os brinquedos e o ambiente. Porém, se ficam tempo excessivo em carrinho, cadeirinha ou no colo, podem não estar encontrando espaço e estímulo para se movimentar e descobrir o "mundo". Oferecer um ambiente seguro, que permita que a criança role, se desloque, mude de postura, sob supervisão de um adulto e com brinquedos ou objetos adequados é essencial para o desenvolvimento neuropsicomotor típico. Somente quando existe necessidade real, com a comprovação de algum desvio no desenvolvimento do bebê durante a avaliação, a criança será direcionada para sessões de estimulação precoce e os pais serão orientados sobre outros estímulos e brincadeiras para fazer em casa, que favoreçam o desenvolvimento.

Caroline Burgos
caroline@amama.com.br
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